A inexistência de dados oficiais sobre o mercado orgânico no Brasil

A inexistência de dados estatísticos oficiais sobre o mercado de produção e comercialização de alimentos orgânicos, no Brasil, volta a ser alvo de críticas. “Falta mais transparência à cadeia produtiva”, diz Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos, mantido pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Apesar das poucas iniciativas direcionadas ao mapeamento do setor, como o cadastro dos produtores de orgânicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a criação de um banco de dados de produção orgânica e agricultura familiar, pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), em São Paulo, ela reforça que “não há estatísticas que permitam conhecer, mesmo nas grandes culturas, quanto o Brasil produz e, sem esses dados, fica difícil mensurar o mercado”.
No caso da iniciativa do Mapa, Sylvia afirma que, por várias vezes, cobrou do governo federal uma análise mais aprofundada dos dados que constam no cadastro de produtores orgânicos. Mas, segundo ela, o avanço tem sido muito lento.
“Ainda é difícil, por exemplo, conhecer o total de área produzida pelos orgânicos por estados, e comparar a produção das principais culturas, entre eles.”
Já a proposta do Instituto de Economia Agrícola tem como objetivo oferecer às empresas, consultorias e à sociedade um acompanhamento periódico dos preços da produção de orgânicos e das estatísticas da agricultura familiar (leia mais sobre o tema aqui).
“É preciso lembrar que são os agricultores familiares que fornecem alimentos para a merenda escolar, por meio de ações como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O sistema elaborado pelo IEA irá permitir que os municípios tenham mais dados para orientar suas compras e as políticas públicas de apoio aos agricultores”, ressalta a coordenadora do CI Orgânicos.
IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO
Para Sylvia, os dados numéricos e sua divulgação “são essenciais para melhorar a produção, auxiliar o setor público a entender melhor a produção dos Estados, além de priorizar e organizar os investimentos”. Ela também chama a atenção para o fato de que a coleta e a disseminação de dados sobre o setor orgânico “são ferramentas para subsidiar a tomada de decisões de produtores e possíveis investidores, que não servem somente ao setor público, permitindo também que o setor privado possa investir com mais segurança”.
Na linha contrária à da informação, alguns órgãos oficiais e até mesmo produtores colaboram para a inexistência desses dados.
“Os exportadores, por exemplo, não são obrigados a declarar se os produtos são orgânicos ou não. Isso resulta em uma falta de estatística em relação à quantidade e tipos de produtos, e para quais mercados exportamos. Por diversas vezes, entramos em contato com associações de produtores de soja, mel, frutas, café, etc., e também não obtivemos dados. Existe, por parte dos produtores, um receio de compartilhar informações, e como o setor público não exige esses dados, ficamos submetidos às estatísticas duvidosas”, critica a coordenadora.
No caso do Estado do Rio de Janeiro, o processo também é o mesmo: “Nem a Secretaria de Agricultura nem a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) divulgam dados sobre a produção de alimentos orgânicos, áreas de cultivo, municípios, entre outros detalhes”.
“Quando esses órgãos são questionados, recebemos desculpas, e não o que foi solicitado. Fica difícil compreender esse tipo de posição, se consideramos que as informações recolhidas pelos governos deveriam ser públicas e abertas a todos os interessados”, relata Sylvia.
Para mais informações, notícias e novidades sobre o mercado de orgânicos no país, acesse os sites CI Orgânicos e OrganicsNet, ambos mantidos pela SNA.
Por equipe SNA/RJ
Matéria publicada em 31 de janeiro de 2017 no site da Sociedade Nacional de Agricultura.
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