Produtor de Orgânicos

De grão em grão, apoio da indústria fortalece orgânicos

RuimRegularBomÓtimoExcelente (Dê sua opinião sobre essa matéria)
Rio, 12 de dezembro de 2022.

 

Entre as galinhas e os ovos da Raiar Orgânicos, o que vem primeiro mesmo é a ração. Afinal, para garantir ovos realmente livres de químicos e com respeito aos ecossistemas, a produção do alimento das penosas precisa estar no centro da estratégia e obter apoio direto da indústria interessada. É a proposta de muitas empresas que se lançam no mundo dos orgânicos: fomentar a produção dentro de cada porteira para estruturar a cadeia de produção. 

A decisão da Raiar de erguer sua granja em Avaré (SP), por exemplo, não foi à toa. No município, a companhia está próxima do principal cinturão de grãos de São Paulo e de produtores de soja e milho de Estados vizinhos, o que facilita o contato direto com as fazendas, e também da capital paulista, maior polo de consumo de alimentos orgânicos do País. 

Raiar Orgânicos

Atualmente, 70 propriedades fornecem grãos orgânicos à Raiar, que produz a ração dos animais por conta própria. Na lista, há produtores que já cultivavam orgânicos, mas que nunca tinham plantado grãos, agricultores que já plantavam grãos, mas que o faziam da forma convencional, e até propriedades que converteram pastos degradados para a produção orgânica de grãos. 

Técnicos agrícolas da Raiar estiveram em cada um desses processos de transformação. “Nossa ideia é desenvolver os grãos orgânicos na região para termos uma gestão da cadeia de suprimentos eficiente”, disse Luis Barbieri, um dos sócios da Raiar, no escritório da empresa em Avaré. 

Assistência de ponta a ponta 

Desde seu início, em 2020, a companhia oferece aos agricultores assistência de ponta a ponta: do apoio na compra de insumos e na certificação orgânica à garantia de compra de soja e milho. Dentro das fazendas, a Raiar estimula os produtores a migrarem paulatinamente para os insumos orgânicos, mantém técnicos próprios e contratados em campo e firma acordos para entrega de insumos em troca dos grãos. “Todo produtor brasileiro já usa algo de orgânico. Os que estão no meio do caminho são mais fáceis de completar a transição. Com aqueles que estão no zero, encorajamos a começar [com a produção orgânica] em um pedaço da fazenda”, disse Barbieri. 

A Raiar também decidiu facilitar a certificação das fazendas, etapa que, por ter custo alto, muitos produtores dizem ser a maior barreira para seu ingresso no segmento orgânico. A solução que a empresa encontrou foi unificar as listas de insumos e os planos de manejo para os produtores. Isso permite fazer apenas uma auditoria para todos os participantes, o que reduz o custo do procedimento. 

A Raiar também garante a compra dos grãos, oferecendo prêmio de 30% sobre os preços de mercado. Independentemente do momento da colheita, a companhia recebe a soja e o milho em seus silos em Avaré, que têm capacidade para armazenar o suficiente para um ano de consumo das galinhas. 

A garantia de compra é o que convence muitos produtores a apostar no grão orgânico. “A gente já produzia milho para dar para as vacas, mas tínhamos receio de trabalhar com soja”, disse Thiago Dominik von Schnitzler, que produz leite orgânico há 20 anos no Sítio Alvorada, em Botucatu. “Íamos vender para quem?” 

Agora, com compra garantida pela Raiar e apoio técnico, ele plantou soja pela primeira vez em 5 hectares. Schnitzler apostou numa variedade mais resistente a pragas e espera colher até 2,5 toneladas. Se der certo, na próxima safra, ele inverterá o tamanho da área de soja com a de milho, que hoje ocupa 20 hectares e alimenta 15 vacas, mas dá prejuízo. 

Orgânicos com escala 

No trabalho com os fornecedores, o objetivo da empresa é não só azeitar a operação de sua cadeia de suprimentos, mas dar escala ao modelo orgânico. Por isso, a Raiar prioriza parcerias com pequenos agricultores, que atraem produtores vizinhos. Metade dos fornecedores, inclusive, é de assentamentos de reforma agrária de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná. 

A falta de escala é o grande gargalo para a popularização dos alimentos orgânicos e ainda trava iniciativas da indústria. “Quanto mais empresas estiverem dispostas a apostar no orgânico e mais houver produtores interessados, pode ser possível [reduzir o custo]. Mas hoje não tem como. O custo de produção é maior, o logístico também”, estima Barbara Sollero, Gerente de Milk Sourcing da Nestlé. 

A gigante suíça lançou em 2019 uma marca de leite Ninho em pó orgânico, mas, com o aperto financeiro das famílias desde o início da pandemia, ela enfrenta dificuldades para manter as vendas do produto, muito mais caro do que o leite convencional. 

A Nestlé passou três anos estruturando uma bacia leiteira orgânica no interior paulista, subsidiando parte da assistência técnica para a conversão de modelos convencionais, apoiando a certificação e estabelecendo contratos de garantia de compra. Hoje, ela paga prêmio de 50% sobre o preço de mercado aos seus 20 fornecedores de leite, mas não vê no horizonte próximo um aumento das vendas. 

Nas gôndolas, uma lata de Ninho em pó orgânico custa R$ 30,00, quase o dobro do concorrente produzido com agrotóxicos. E, mesmo com um produto mais caro, a Nestlé tem margem menor por causa dos custos elevados da cadeia orgânica. No caso da Raiar, cada ovo custa R$ 1,00 a mais no varejo que o produzido no modelo convencional e com galinhas em gaiola (as aves da Raiar são criadas de forma livre e podem até ciscar na grama). Para uma família de quatro pessoas, o gasto adicional por mês seria de R$ 120,00, em média. 

Mas, diferentemente do leite orgânico, que aos olhos, olfato e paladar do consumidor é igual ao convencional, o ovo orgânico tem uma identidade própria marcante, como a tonalidade amarela mais intensa da gema. “Tem cheiro, sabor diferente. Achamos que o ovo pode ser o grande embaixador do setor de orgânicos”, estima Barbieri. 

Os ovos orgânicos representam hoje 0,30% do mercado, mas ele acredita que a fatia pode chegar a 3%, o que demandaria de 5 milhões a 6 milhões de galinhas poedeiras. A Raiar abriga 80.000 galinhas atualmente, mas tem planos para construir mais granjas e abrigar 700.000 aves. 

Fonte: Valor

Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Consumidor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:

Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Produtor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:

Comentários

Deixe um comentário

Siga no Instagram @ciorganicos

🌎 Principal fonte de inteligência sobre a cadeia produtiva de alimentos saudáveis e produtos orgânicos.

Boletim de notícias

Cadastre-se e receba novidades.