Recuperação de áreas degradadas em assentamento: produção de grãos orgânicos
Em 2019, Luis Barbieri, CEO da Raiar Orgânicos, procurou o MST buscando incentivar a produção de grãos orgânicos para alimentar o plantel de galinhas poedeiras. No começo, a Raiar utilizou a estrutura de beneficiamento e armazenamento da Cooperativa Da Terra, em Itaberá (SP), que só trabalha com produtos não transgênicos. A Raiar custeou e forneceu a assistência técnica para a conversão dos solos degradados e a certificação, uma imposição do mercado de orgânicos.
Além disso, garantiu a opção de compra do milho com um prêmio de 30% para o cereal certificado. O projeto cria uma demanda enquanto ajuda os produtores a terem mais renda e incentiva um negócio saudável. A Raiar tem alojadas 100 mil galinhas, mas pretende ampliar o número para 700 mil.
“Hoje, 80% da área de agricultura no Brasil é destinada à produção de grãos. Precisamos pensar numa transformação da cadeia” (Luis Barbieri, sócio-fundador da Raiar Orgânicos)
Há seis meses, o produtor rural Paulo Guimarães Silva, do assentamento Zumbi dos Palmares, em Iaras (SP), vem preparando uma área de sua propriedade para o plantio de milho orgânico. Acostumado à produção de frutas e hortaliças, ele nunca se aventurou em uma lavoura como a de milho. “O projeto é muito interessante, porque prevê a recuperação do solo e a compra do produto a preço de mercado. Por enquanto não há muito a preocupação de plantar, só vamos plantar quando o solo estiver bom.”
Em dezembro de 2022, a empresa assinou uma parceria, com a Rabo Foundation, fundação do Rabobank, com a finalidade de apoiar pequenos produtores. O acordo deve envolver 40 propriedades de diferentes tamanhos e aptidões. “A parceria promove um impacto positivo no meio ambiente e traz um modelo de negócios inovador ao promover a conscientização e a sustentabilidade. Esperamos que o projeto inspire mais produtores a participar”, diz a gerente para a América Latina da Rabo Foundation, Lygia Cesar.
Os investimentos serão de R$ 700 mil, que serão direcionados pela Raiar a produtores familiares em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná, e mais R$ 450 mil para o custeio da assistência técnica. A contrapartida é a entrega de indicadores de impacto ambiental, econômico e social como qualidade do solo, contaminação da água, elevação de renda familiar e paridade de gênero.
Outros produtores
Em Angatuba (SP), o gerente da Agrícola e Pecuária Santo Izidoro, Pascal Beaujean, está convertendo em orgânicos uma área da fazenda, que pertence à Polenghi Indústrias Alimentícias. Ele explica que os grãos transgênicos foram abolidos da propriedade há cinco anos.
Antes de cogitar as plantações de orgânicos, Beaujean entendeu que era preciso desenvolver tecnologias e regenerar o solo. Recorreu ao conhecimento sobre adubação verde do agrônomo francês Lucian Seguy e a partir dessa aproximação, Beaujean começou a fazer experiências com fertilização e consórcios de culturas.
“Nossa ideia é restaurar os solos, ‘desmamar’ dos químicos e converter 50% da área em orgânicos nos próximos cinco anos. A área de conversão precisa de pelo menos 18 meses para ficar pronta. Pretendemos plantar o milho orgânico no final deste ano”, diz Beaujean. “A conversão vai depender de nossa aprendizagem, sobretudo do manejo das plantas daninhas. Quase não há conhecimento e assistência para o manejo de orgânicos.”
Segundo Beaujean, o aprendizado na fazenda pode ser um catalisador da disseminação do conhecimento sobre cultivos na região. Ele observa que “infelizmente as assistências técnicas são muito conservadoras, um agrônomo prescreve sempre uma coisa segura, ele não pode arriscar. A agricultura química é muito imediatista. Mas precisamos de um outro olhar, temos de olhar além do imediato, um pouco mais a longo prazo.”
Por não ter um pacote tecnológico salvador da lavoura, a produção orgânica precisa desenvolver soluções criativas para enfrentar seus problemas. A dificuldade de encontrar técnicas de manejo e ferramentas adequadas em um mercado praticamente todo desenhado para os preceitos da Revolução Verde é um desafio. Por isso, a Raiar estruturou uma rede de produtores chamada Folio, voltada à troca de conhecimentos.
“A indústria só desenvolve soluções quando há demanda. A Folio é uma rede aberta e colaborativa. Um dos objetivos é facilitar o processo de entrada dos produtores no orgânico, entender quais são os insumos que ele pode utilizar”, afirma Luis Barbieri.
O controle do mato, um dos problemas resolvidos nos cultivos comerciais é mais complicado na agricultura orgânica. Na produção de milho não existe tanta dificuldade, mas na soja, plantas de menor tamanho, é diferente. Os produtores até adaptam máquinas para a retirada do mato das entrelinhas, mas, para o mato que cresce nas linhas, precisam recorrer à boa e velha capina com enxada, pois não há máquina que resolva.
O produtor Gustavo Ricca, de Tarumã (SP), vem de uma família que investe em grãos orgânicos há mais de 20 anos. Quando começaram, não havia tanta disponibilidade de insumos biológicos. Mas o problema do mato persistiu. “Tiramos entre 50% e 60% do que cresce nas linhas com a carpa manual.”
Recentemente, ele importou da Itália uma máquina que adaptou à lavoura. Segundo Gustavo, o mecanismo tira o mato da linha e das entrelinhas. “Utilizamos um pouco na safra de verão, e já deu para ver que tem potencial. Se a máquina conseguir tirar 80%, será uma coisa excepcional.”
Fonte: Globo Rural
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