Louis Vuitton e Armani vão investir em algodão regenerativo idealizado no Brasil
“Uma feliz coincidência”. É assim a co-fundadora do hub de inteligência agroflorestal Pretaterra, Paula Costa, descreve como o projeto de implantação de agroflorestas regenerativas chegou até Marc Palahí, o braço direito do Rei Charles III, e que pode tornar a indústria têxtil mais sustentável.
Em parceria com a The Circular Bioeconomy Alliance, aliança criada pelo rei da Inglaterra para implementar projetos de bioeconomia circular, o Pretaterra vai elaborar sistemas de agroflorestas regenerativas com algodão para duas grandes grifes, a Armani e LVMH, holding a que pertence a Louis Vuitton.
Por uma moda mais verde
A indústria têxtil é a segunda mais poluidora do mundo, segundo levantamento da Global Fashion Agenda. No entanto, grandes marcas estão começando a investir em práticas mais sustentáveis para reduzir impactos ambientais e sociais.
“A The Circular Bioeconomy Alliance está focando em indústrias que são muito poluentes, mas que tem um retorno bom o suficiente para investir na mudança e um alto impacto. Assim qualquer redução de 10% em uma indústria gigante é uma grande redução”, destaca Valter.
Com uma proposta ousada de combinar conhecimentos ancestrais e inovações tecnológicas, o Pretaterra terá o desafio de executar o projeto com algodão arbóreo, em fase de teste, em três locais.
A agrofloresta da Armani, por exemplo, vai ser implantada na Puglia por um motivo especial. “O Giorgio Armani disse que ele faria qualquer coisa pelo mundo, desde que fosse na Itália, porque as primeiras roupas que ele fez foram com algodão italiano”, explica o agricultor.
Além disso, a escolha do local tem relação com as condições necessárias para cultivar algodão arbóreo. A cidade de Bari, na Puglia, vai abrigar as agroflorestas por ser uma região mais seca, mas muito próxima do oceano.
A ideia da Armani, segundo Ziantoni, é iniciar um movimento regenerativo no país, resgatar a cultura de algodão na Itália e tornar a marca em uma espécie de vitrine de plantação da fibra agroflorestal. No entanto, o projeto ainda vai contar com ajuda dos gregos, visto que, atualmente, a produção de algodão na Europa é concentrada na Grécia.
O caso da Louis Vuitton, como os próprios fundadores da Pretaterra dizem, é o de maior proporção e mais audacioso, a começar pela área escolhida pela marca: Chade, localizado no centro-norte da África. O país de tradição agrícola, que tem como uma das principais commodities o algodão, está sofrendo com as consequências das mudanças climáticas a ponto do maior lago da região, Lake Chade, estar secando.
Segundo Valter, a proposta, neste caso, vai além da plantação de algodão agroflorestal. “O papel da Pretaterra será ajudar também na restauração de nascentes e cabeceiras do lago. Assim, traremos maior resiliência hídrica para a paisagem, maior resiliência econômica para os produtores e maior variedade de produtos para consumo próprio e comercialização, já que a agrofloresta implica a plantação de outras culturas”, complementa ele.
Além disso, a Louis Vuitton pretende tornar a matéria-prima desse projeto a principal para confecção dos seus produtos na medida em que o projeto apresente resultados.
Cultivando algodão e outas espécies arbóreas
No Peru, o projeto vai ser realizado na cidade de Piura, uma região semiárida, ideal para o cultivo de algodão. Por lá, a cultura já está estabelecida, tanto que já existem cooperativas de pequenos e médios produtores. No entanto, a produção não é por meio da agricultura regenerativa.
Segundo Paula Costa, além de plantar o algodão anual, eles vão investir no cultivo do tipo arbóreo.
“Apesar de a fibra do algodão arbóreo ser mais longa, o que impacta na qualidade do tecido, a planta é perene, ou seja, não precisa de replantio, não precisamos mexer no solo todo ano e isso faz uma diferença enorme na emissão de carbono. Somos grandes defensores de culturas perenes, porque elas não agridem o solo”, ressalta a fundadora do hub.
Ela destaca também que o plantio de algodão anual e arbóreo é vantajoso para os produtores, visto que os dois poderão ser comercializados. O sistema agroflorestal permite, também, que o agricultor diversifique a produção e comercialize frutas e outras culturas florestais.
Em dezembro, Paula Costa e Valter Ziantoni embarcam para o Chade para iniciar o projeto, que inclui as etapas de visitação às áreas escolhidas, coleta de dados preliminares e aquisição de conhecimento local. Os projetos da Armani e Louis Vuitton terão duração de 4 a 7 anos, desde os estudos e o plantio, até o monitoramento dos resultados.
Agricultura em sinergia com a natureza
Com propósito de revolucionar a agricultura por meio da ancestralidade e práticas alinhadas à conservação dos direitos da floresta, o Pretaterra busca ir mais longe na missão de “regenerar” a monocultura.
Ainda no setor têxtil, Valter Ziantoni e Paula Costa estão firmando um projeto de implantar sistemas agroflorestais regenerativos com o Gruppo Florence, um polo industrial de referência para o empreendedorismo e produção da moda italiana de luxo.
Por intermédio da Armani, o guarda-chuva de marcas italiano já investe em fibras alternativas, inclusive lã regenerativa com ovelhas criadas em sistema agropastoril. Ainda em fase de tratativas com o Gruppo Florence, o Pretaterra já está estudando as potenciais marcas que terão uma produção de fibras mais sustentável por meio da agricultura regenerativa.
Fonte: Globo Rural
Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Consumidor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:
Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Produtor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura: