Certificações valorizam carne produzida no Pantanal

Presente na região desde o século XVIII, a pecuária é parte da paisagem do Pantanal. Nos últimos tempos, o bioma também tem sido um fator importante para agregar valor à carne produzida na área graças às certificações orgânica e sustentável do Pantanal. A última foi criada especialmente para a carne local e será oficializada na Expointer com a assinatura do termo pela Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Leonardo Leite de Barros, presidente da ABPO, acredita que a região se tornará referência em carne de qualidade no país nos próximos dez anos. “Primeiro, porque não temos incidências de doenças graves na região. Não precisamos administrar remédio por conta do processo de cheia e seca, mais ou menos o que acontece em países de clima temperado, que tem neve. O controle de parasitas, por exemplo, é feito pela água”. Ele ainda destaca a importância da qualidade das gramíneas do bioma para o sucesso da proteína local.
Segundo Barros, o mercado tem se mostrado receptivo aos produtos e vem crescendo, garantindo remuneração diferenciada para o pecuarista. “O consumidor quer saber quem, onde e como produziu. Para entregar essa informação, você precisa de algum tipo de certificação, rastreabilidade. Esse é o nosso caminho e, em alguns anos, já não será mais vantagem competitiva, então estamos buscando novas coisas, que é exatamente essa ligação com a cultura pantaneira e a preservação do bioma”, conta.
Na categoria de orgânicos, a remuneração é calculada pelo valor da arroba do boi mais prêmio de 10% a 13%, dependendo do animal. “A arroba de animais cruzados, com menos de dois dentes e 3 mm de gordura vale a arroba do boi mais 13%”, diz Barros. Já para os da certificação sustentável do Pantanal, a cotação fica em arroba do boi mais de 2% a 3% para fêmeas e 3% a 5% para machos. “Para nós, a base é sempre a arroba do boi, não importa o sexo abatido”. No caso da associação, os negócios são diretamente com o cliente, que escolhe a categoria animal de sua preferência e todos os detalhes de como quer o produto. A partir disso, a precificação é definida com o frigorífico – a ABPO abate todos os seus animais no Naturafrig – participando das conversas.
Criada em 2001, a ABPO conta, atualmente, com 15 produtores em um total de 21 fazendas e cerca de 60 mil cabeças. O abate semanal é de cerca de 20 animais – 50% orgânico e 50% sustentável. “Aceitamos novos associados, mas queremos trabalhar de forma saudável, então só admitimos mais gente a partir da sinalização de que teremos demanda”.
Certificação orgânica
Como todas as certificações orgânicas, a da carne é regulada por instruções normativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A propriedade que deseja ter o selo orgânico não pode usar nenhum produto químico no solo ou para tratar os animais e precisa documentar todos os processos realizados na fazenda, que serão auditados por uma empresa parceira. A ABPO trabalha com o IBD. “Tem que ter toda uma rastreabilidade. Todos os animais têm identificação individual e o sistema vai recebendo todas as informações relativas a ele: ano em que nasceu, raça, fazenda, tipo de nutrição, intervenções feitas, entre outros”, explica o pecuarista.
Os animais são tratados com produtos homeopáticos e fitoterápicos e a adubação é orgânica. Caso o produtor opte por fornecer grãos ao rebanho, eles precisam ser certificados e não-transgênicos. O frigorífico parceiro também precisa ser autorizado pelo Mapa e deve seguir regras específicas para o abate, acondicionamento e embalagem das carnes orgânicas.
Sustentável
A certificação de ‘carne sustentável do Pantanal’ é uma iniciativa da ABPO, que começou há mais de dois anos e que conta com apoio da Embrapa Pantanal e da WWF Brasil. O protocolo orgânico é mais restritivo do que o sustentável, então este pode funcionar como uma transição para o outro.
Nessa certificação, o uso sistêmico de vermífugos até os 12 meses de idade é permitido. “Depois disso, se você fizer aplicação, o animal precisa passar por período de readequação”, conta Barros. Assim como no orgânico, os animais são rastreados e não há uso de ureia na alimentação, mas é possível fazer adubação regular das pastagens, desde que tudo seja documentado. A indicação é que os tratamentos sejam homeopáticos e fitoterápicos, mas remédios padrão podem ser empregados com recomendação do veterinário. “O sustentável aceita mais interferências do homem, mas as questões sociais e ambientais ligadas à legislação são as mesmas”.
Custos
Segundo o presidente da ABPO, os custos aumentam de 5% a 10% nos dois primeiros anos devido às transformações que precisam ser feitas na propriedade para que ela esteja apta para a certificação. “A primeira providência para se enquadrar é estar totalmente rastreada. Isso significa colocar todos os animais no mangueiro, comprar chip ou brinco e ter uma pessoa para administrar esse sistema de informações”, explica.
Ele ressalta que as fazendas da associação trabalham com abundância de pastagem – quase dois hectares por animal – e que também é preciso se adaptar ao uso da homeopatia. “Mas logo você descobre que tudo que você fez vira instrumento de gestão, porque começa a documentar todo seu processo produtivo e a entender que tem dados para gerenciar sua propriedade muito melhor. Então, hoje, quem já está há bastante tempo não sente mais acréscimo de custo”.
Parcerias
Atualmente, a principal e mais longa parceria da ABPO é com a Korin, que compra tanto animais com certificação orgânica quanto sustentável. Segundo Barros, a relação com a empresa também é importante pelo feedback do consumidor final que ela oferece aos pecuaristas. “A Korin, através do SAC, passa as informações de maciez, suculência, embalagem, entre outros, para que consigamos aprimorar e saber que tipo de animal tem melhor aceitação”.
De acordo com ele, o feedback tem sido positivo, mas a ABPO procura trabalhar as críticas para entender o que quer o consumidor. “O nosso cliente pede um animal não tão gordo, quer principalmente o animal novo, porque dá maciez, e quer animal cruzado. E busca, principalmente, porcionamento na gôndola, porções grandes já não funcionam mais”. Por causa dessas preferências, a idade de abate da ABPO fica entre dois e dois anos e meio normalmente, não passando de três. “É animal novo, não interessa tanto o peso final do animal”. Nos revendedores finais, Barros diz que os preços das carnes da associação estão no mesmo nível de “carnes premium, com marca de qualidade”.
Entre os clientes também estão a Wessel, a Taurinus, supermercados de Mato Grosso do Sul e a Guarânia. Esta última produz linguiças bovinas com carne sustentável do Pantanal. Este ano, a empresa recebeu a certificação do Sisbi (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal) e está autorizada a vender o produto fora de MS. “A parceria com a Guarânia é recente e acreditamos muito nela, porque é um produto que nasceu no Pantanal. Esse tipo de linguiça é um alimento típico pantaneiro”, conta Barros.
A possibilidade de exportação não é descartada – quando a associação tinha parceria com o JBS, foram feitas vendas externas -, mas o foco no momento está no mercado interno. “Entendemos que há interesse doméstico nesse tipo de produto. O orgânico é um nicho importante que temos trabalhado, vem com crescimento firme de 10% ao ano, mas vemos que o sustentável tem um campo grande para crescer”.
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Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Consumidor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:
Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Produtor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:
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