A agricultura orgânica que se reinventa

Superar desafios não é novidade na vida de Fátima Anselmo. Mudar, se reinventar, também não. A trajetória a agricultora, nascida em Fortaleza, mostra isso. De professora de história a uma das maiores produtoras de alimentos orgânicos do Rio de Janeiro, Fátima trilhou um caminho de incertezas, mas de muito sucesso até se tornar a Maga da Terra.
Professora de história, desceu para a Região Sudeste há algumas décadas. Instalou-se com a família no Brejal, nos arredores de Petrópolis, Rio de Janeiro, lugar considerado referência no cultivo de orgânicos, e acabou “picada pela abelhinha da agricultura”, diz.
“Ofereci meu trabalho aos vizinhos, de graça, para aprender a plantar”, conta Fátima. Em 2000, quando adquiriu um sítio de dois hectares, ela e o então marido rasparam as economias para transformar o hobby em negócio.
Os legumes eram vendidos em feiras orgânicas da cidade, entregues diretamente aos consumidores ou, quando havia sobra, caíam nas mãos de atravessadores – o que minguava os rendimentos da família. “Como não dava para viver da produção, um dia resolvi procurar os hotéis e restaurantes. Para conquistar os clientes, dava os produtos de graça”, afirma. Naquele momento, as coisas começaram a mudar.
Depois de firmar os primeiros contratos com pequenos estabelecimentos cariocas, Fátima foi aumentando a clientela com base na propaganda boca a boca. E acabou descobrindo algo que a destacou da concorrência: a produção de minilegumes e brotos. As entregas eram feitas em seu velho carro, sempre de madrugada.
O sucesso das vendas a encorajou a arriscar mais. Um dia, Fátima encheu-se de coragem e enviou um e-mail para o famoso chef Claude Troisgros.
“Escrevi achando que ele era mulher, acredita? Ainda assim, ele respondeu e pediu amostras”, ela ri da confusão.
O mix de folhas que Fátima desenvolveu para a rede de restaurantes de Troisgros serviu de cartão de visita para a conquista de outros clientes de peso – vieram na carona os chefs Roberta Sudbrack e Felipe Bronze, além dos restaurantes dos hotéis Fasano, Copacabana Palace e Sheraton.
Reconstrução
Em 2011, Fátima viu seu sonho literalmente ir por água abaixo. “As chuvas destruíram o sítio, só fiquei com 30% da terra coberta de lama”, diz. Juntos, Claude Troisgros e Roberta Sudbrack financiaram sua recuperação.
“Eles até bancaram o pagamento dos meus funcionários”, lembra Fátima, que ainda se emociona ao contar a história.
Hoje tocando os negócios junto de seus dois filhos, desde 2014 a “Maga da Terra” ocupa um terreno arrendado de 2 mil metros quadrados em um dos bairros mais bucólicos do Rio de Janeiro, com direito a água de nascente. O ar puro é a tranquilidade na horta da agricultora. No grande terreno que fica no Itanhangá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde funciona a horta do Orgânicos da Fátima.
O sítio do Brejal também voltou a produzir – é lá que são plantados os minilegumes, enquanto o cultivo de brotos e flores comestíveis fica concentrado nas duas grandes estufas cariocas. Somando-se as duas propriedades, a produção chega a 1 tonelada por mês.
Crise com o coronavírus
A crise atual por conta da expansão da ameaça do Covid-19, o coronavírus, assusta os produtores. Numa era em que se inicia uma pandemia, os negócios são abalados, mas a confiança em fazer o certo, não. Continuar produzindo e servindo os consumidores é o que move Fátima, e aguça a sua capacidade de reinvenção.
O maior faturamento da produtora era com a venda sistemática para restaurantes e hostéis. Devido à pandemia do Covid-19, os estabelecimentos foram fechados e, por consequência disso, suspenderam os contratos das cestas . Assim sendo, ela perdeu 99,9% de seu faturamento, tendo que estabelecer, assim, a venda de cestas para o público em geral como atividade principal para manter funcionários e a sobrevivência pessoal.
Atualmente, a Orgânicos da Fátima tem o foco de entregar em domicílio os produtos. O serviço, antes, representava apenas uma pequena parcela do faturamento da horta. Em seu favor, Fátima acredita que a busca pela alimentação orgânica pode ajudar nesse período de quarentena. Mas, claro, com todos os cuidados para que o alimento chegue ao comprador.
“É importante que continuemos os trabalhos para que todos possam se alimentar durante este período atípico, mas intensificamos todos os protocolos de higiene que já estavam em prática. Aqui os colaboradores usam máscaras, andam com os vidros de álcool em gel e lavam as mãos constantemente. O pessoal da entrega, que faz o delivery, foi orientado a também lavar as mãos com álcool antes e depois de qualquer contato com os equipamentos e com as cestas que são entregues. Recomendamos até que não tenham contato direto com o consumidor”, diz Fátima Anselmo.
“O produto orgânico é um conceito. As pessoas que compram o alimento levam junto para casa um pacote que inclui geração de empregos, cuidados especiais com a água, todo o ambiente e uso sustentável dos recursos. É uma comida limpa”, explica Fátima. Para ela, é o momento de cuidarmos não só uns dos outros, mas também da natureza, que sempre nos manda os sinais.
“Estamos fazendo o possível para passar bem por essa situação, trabalhando juntos vamos superar qualquer dificuldade. Tem a ver com os bons hábitos e a mudança em cada um”, afirma.
Leia a noticia completa, fonte: MeioAmbiente
Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Consumidor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:
Clique na imagem abaixo e confira na íntegra o Guia do Produtor Orgânico da Sociedade Nacional de Agricultura:
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