Técnicas simples ajudam lavouras orgânicas a conviver com plantas espontâneas
Um estudo da Embrapa mostra que é possível, em lavouras de grãos, reduzir o uso de capina e eliminar a necessidade de herbicidas no controle de plantas espontâneas. A solução é usar técnicas simples como rotação de culturas, cobertura do solo e semeadura direta. A descoberta beneficia especialmente lavouras orgânicas e agroecológicas, nas quais não são aplicados produtos químicos. A pesquisa foi realizada no Cerrado goiano, em ambiente tropical, e avaliou diferentes formas de manejo ao longo de quatro anos.
O experimento foi conduzido na Fazendinha Agroecológica da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO), em uma área de transição de sistema convencional para sistema orgânico e agroecológico. A proposta era testar como o cultivo de diferentes plantas de cobertura e o preparo do solo (convencional ou direto) influenciam a presença de plantas espontâneas, popularmente chamadas de “mato”, mas que são encaradas agroecologicamente como “espontâneas”.
Controle e convívio com plantas espontâneasO manejo agroecológico para a produção orgânica de grãos pressupõe a preservação, a recuperação e a manutenção da agrobiodiversidade local e dos recursos naturais envolvidos na atividade produtiva. Nesse sentido, plantas espontâneas ou o “mato” são partes indissociáveis do ambiente de produção e não podem ser tratados como tradicionalmente é feito com as chamadas plantas daninhas pela agricultura convencional. As lavouras devem conviver com diferentes espécies vegetais em busca de equilíbrio e controle mútuo. As práticas de manejo como a utilização de plantas de cobertura de solo, sistema de preparo do solo, época de semeadura dos cultivos principais, utilização de sementes de boa qualidade e de variedades adequadas, rotação e sucessão de culturas devidamente planejados; e adequação dos cultivos à mecanização podem auxiliar na convivência com as plantas espontâneas. O conhecimento técnico do crescimento e desenvolvimento das espécies vegetais também se faz necessário. O ciclo vegetativo e reprodutivo, a ecologia e a adaptabilidade ao sistema, a germinação das sementes, a competitividade e a capacidade de provocar danos físicos e prejuízo na produção, devem ser conhecidos para que se efetue e se elabore um sistema de convivência e manutenção da biodiversidade, incluindo o “mato” – as plantas espontâneas. |

Como foi feita a pesquisa
Foram implantados e repetidos, ao longo de quatro anos, experimentos combinando plantas de cobertura do solo em semeadura direta e em preparo convencional utilizando grades aradora e niveladora. Houve ainda uma parcela em pousio (apenas vegetação espontânea presente na área) para comparação. Em cada sistema de manejo do solo, foram estabelecidas as culturas anuais de grãos.
O experimento funcionou com o plantio de milho e do feijão no início do período chuvoso, na época “das águas”. Após a colheita de grãos, as plantas de cobertura crotalária, guandu, mucuna-preta e sorgo vassoura foram semeadas na “safrinha”, permanecendo durante a entressafra, a não ser na área de pousio.
Posteriormente, com a chegada de cada novo período chuvoso (época das águas), as plantas de cobertura de solo e a vegetação espontânea (pousio) eram manejadas e deixadas sobre o solo para semeadura direta ou incorporadas para semeadura convencional do milho e do feijão “das águas”.
Sucesso no controle da tiririca
Nesse trabalho, foram encontradas 25 espécies de plantas espontâneas. A tiririca, a trapoeraba, a corda de viola, o picão-preto e o leiteiro foram as utilizadas para este estudo, devido à importância no cultivo de feijão e de milho.
Um dos principais problemas em agroecossistemas tropicais é a tiririca. No experimento, ficou evidente que as plantas de cobertura exerceram efeito supressor em comparação à área de pousio (apenas plantas espontâneas na entressafra). “Em sistema de semeadura direta, a população de tiririca foi também reduzida em cerca de três vezes comparativamente ao sistema de preparo convencional do solo”, relata o pesquisador da Embrapa Agostinho Didonet, um dos coordenadores desse trabalho. “O resultado indica que a semeadura direta é importante aliada da produção de grãos em sistemas agroecológicos”, analisa.
Ele relatou que sorgo vassoura, milheto e crotalária, utilizados como cobertura de solo e depois manejados para semeadura de grãos em plantio direto, apresentaram a menor incidência de tiririca durante o experimento, o que pode ser atribuído à maior capacidade de cobertura do solo e produção de biomassa.

Uso de diferentes plantas de cobertura
Para outro tipo de planta espontânea comum no cerrado, a trapoeraba, o efeito de diferentes plantas de coberturas foi também um diferencial. “A utilização da crotalária (foto abaixo), guandu e mucuna permitiu quase dobrar o controle da trapoeraba, quando comparada ao pousio e ao sorgo vassoura, disse Didonet. Nesse caso, o pesquisador observa ainda que o preparo do solo, seja convencional ou em plantio direto, não afetou significativamente o efeito supressor das plantas de cobertura.
Agostinho considera que os experimentos mostraram, de forma geral, que plantas de cobertura manejadas em sistema de semeadura direta reduziram a competitividade de espécies de plantas espontâneas diante de lavouras orgânicas de grãos de milho e de feijão. Isso pode ser explicado pela presença das plantas de cobertura ao longo da entressafra e de resíduos vegetais na superfície do solo.
De acordo com Didonet, a rotação de culturas na safra “das águas”, o cultivo de diferentes plantas de cobertura do solo na entressafra, a semeadura direta e a diversidade de plantas espontâneas presentes no pousio, permitiram alcançar certo equilíbrio sem predomínio de nenhuma delas. Isso facilitou o controle e a convivência com plantas espontâneas seguindo princípios agroecológicos na produção de grãos.

Sustentabilidade na produçãoSistemas agroecológicos tentam imitar os ecossistemas naturais com o uso de técnicas e de processos agrícolas norteados por princípios que sejam sustentáveis, que preservem o meio ambiente de forma a não diminuir, ao longo do tempo, a capacidade produtiva. De forma mais ampla, a agroecologia pode fornecer uma compreensão do funcionamento de agroecossistemas, integrando os âmbitos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à avaliação dos efeitos das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo. |
Rodrigo Peixoto (MTb 1.077/GO) Embrapa Arroz e Feijão
Fonte: SNA
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