A agricultura regenerativa como mecanismo conciliador entre o meio ambiente e a produção
Em um mundo em rápida transformação, uma das questões mais prementes que enfrentamos é: como nutrir uma população crescente enquanto protegemos e regeneramos os ecossistemas da Terra? A resposta, surpreendentemente, não se encontra apenas em laboratórios científicos e em modernas salas de conferência tecnológicas, mas também nos imemoriais sussurros de práticas agrícolas ancestrais.
Emergindo da comunidade científica global, ressoa uma esperança: a agrofloresta e a agricultura regenerativa, que reincorpora carbono ao solo, pode, além de alimentar uma população prevista de 10 bilhões de pessoas, também ser a solução transformadora para a crise climática.
Métodos agrícolas tradicionais liberaram impressionantes 480 GtCO2, liberando mais de 133 gigatoneladas de carbono dos solos desde o início da agricultura. A maior parte desta perda ocorreu desde o século XIX, através de práticas como desmatamento, pastoreio excessivo e uso de fertilizantes químicos.
Entretanto, a nova era agrícola tem o potencial de transformar terras cultiváveis em sumidouros de carbono com potencial de absorção de mais de 1 trilhão de toneladas de CO2.
As práticas agrícolas regenerativas, mais do que um conjunto de técnicas, são uma filosofia de vida que reúne conhecimento ancestral e inovação, buscando mimetizar os processos idiossincráticos naturais, focando na biodiversidade, na saúde do solo e no ciclo da água e do carbono, ao final, criando uma agricultura mais produtiva e resiliente.
Porém, o que torna a agricultura regenerativa única em nossa era é sua abordagem híbrida. Enquanto resgata técnicas tradicionais de manejo do solo, rotações diversificadas de culturas, agrofloresta e manejo integrado de pastagens, ela também abraça tecnologias potenciais.
A Inteligência Artificial (IA) e o Machine Learning, por exemplo, desempenham um papel crucial na otimização da irrigação, na gestão de pragas e na previsão de rendimentos. Enquanto a blockchain promete revolucionar a rastreabilidade dos produtos, garantindo que os alimentos que consumimos sejam não apenas sustentáveis de fato, mas também rastreáveis.
Os drones, voando sobre vastos campos agrícolas, capturam imagens detalhadas, fornecendo informações cruciais sobre a saúde do solo, níveis de umidade e infestações de pragas. Enquanto isso, no solo, a robótica avançada realiza tarefas desde a semeadura até a colheita, otimizando a produção e minimizando o desperdício.
O Brasil, abrigando a maior extensão da floresta amazônica, carrega consigo uma responsabilidade global e uma oportunidade ímpar de estabelecer padrões de conservação e sustentabilidade. Desde a implementação do Código Florestal em 1965, que introduziu o conceito de “reservas legais”, o Brasil tem demonstrado compromisso com práticas agrícolas responsáveis.
Essas reservas legais, regulamentadas para manter entre 20% a 80% da vegetação nativa (dependendo da região), representam uma estratégia visionária de equilibrar produção agrícola com conservação ambiental.
Adicionalmente, o país tem sido pioneiro em adotar e promover práticas agrícolas inovadoras, como o plantio direto – uma técnica que começou a ganhar destaque nos anos 70 e 80 e que, segundo dados da FAO de 2017, já era utilizada em mais de 32 milhões de hectares no Brasil. Como prática integrante a somar-se à agricultura regenerativa, esta técnica não apenas conserva a estrutura do solo e aumenta a retenção de água, mas também contribui significativamente para o sequestro de carbono.
Essa combinação de práticas agrícolas tradicionais com a tecnologia moderna é especialmente relevante para o Brasil. Com sua biodiversidade incomparável e tradição agrícola arraigada, o país tem um papel central a desempenhar. As práticas agroflorestais do Brasil têm ganhado protagonismo mundial. Organizações como a PRETATERRA não apenas conduzem pesquisas inovadoras, mas também ajudam a implementar práticas agroflorestais regenerativas em todo o país.
Em um panorama mais amplo, estas ações e compromissos refletem a aspiração brasileira de liderar um paradigma global de agricultura que é tanto produtivo e economicamente viável quanto ecologicamente responsável. E como Ernest Gotsch sabiamente observou: “Na natureza, tudo está conectado”.
E Ana Primavesi reforça afirmando que devemos aprender com a Terra, e não simplesmente explorá-la. Estes pensadores e inovadores nos lembram que a verdadeira inovação não vem apenas de máquinas, mas de uma compreensão profunda da natureza.
Novos modelos
Globalmente, a pegada da agricultura regenerativa está crescendo, mas a jornada rumo a uma agricultura verdadeiramente regenerativa ainda é longa e complexa. Desde as técnicas de “adubo verde” e plantio direto aqui no Brasil até as redes de regeneração de árvores na África, movimentos locais estão remodelando a paisagem agrícola do planeta.
O desafio climático tem múltiplas nuances, e a agricultura regenerativa se destaca como uma solução diversificada e essencial. Com uma catástrofe alimentar e energética iminente, é imperativo que aproveitemos o potencial do solo, catalisando uma revolução agrícola global. Para tornar possível essa transformação, essa jornada, deve ser empreendida com urgência e paixão.
Não se trata apenas de alimentar o mundo, mas de fazê-lo de uma maneira que honre a Terra, celebre a inovação e respeite as tradições. E nesta interseção de passado, presente e futuro, encontramos a promessa de um mundo mais verde, mais justo e mais próspero.
Por Valter Ziantoni – CEO PRETATERRA
Fonte: Globo Rural
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