Produtor de Orgânicos

Produção orgânica e agroecologia crescem em Campinas e se consolidam como alternativas sustentáveis no campo

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Rio, 15 de julho de 2025.

A agricultura orgânica avança em Campinas, impulsionada pela diversidade de produtores e pela força das feiras livres como ponte entre campo e cidade. É o que revela uma pesquisa da Unicamp em parceria com a Embrapa Meio Ambiente, que mapeou o setor na região e reforça a importância de políticas públicas para fortalecer a produção ecológica e a agricultura familiar. O estudo também alimenta os debates sobre a consolidação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (2023/2024).

Impulsionada por movimentos sociais, a produção orgânica e a agroecologia vêm conquistando espaço no interior paulista como caminhos viáveis para um desenvolvimento rural mais justo e sustentável. Em Campinas (SP), esse avanço se materializa nas feiras livres ligadas à Rede de Agroecologia do Leste Paulista, que hoje reúnem dezenas de produtores certificados e oferecem uma ampla variedade de alimentos orgânicos diretamente aos consumidores urbanos.

O trabalho, realizado por Victor de Carvalho, durante sua graduação na Unicamp, identificou de maneira preliminar a atuação de parte desses produtores nas feiras do Bosque dos Jequitibás e do Parque Ecológico, dois dos principais pontos de comercialização da cidade. “A pesquisa identificou 110 agricultores vinculados à Associação de Agricultura Natural de Campinas (ANC), que adota o modelo participativo de certificação por meio da Organização Participativa de Avaliação da Conformidade (OPAC). Os dados são secundários e foram coletados a partir de registros do Ministério da Agricultura e da própria ANC”, destaca Carvalho.

O levantamento mostra que a agricultura orgânica, além de representar uma alternativa econômica viável para pequenos produtores, cumpre funções sociais e ambientais estratégicas. “As feiras são espaços de fortalecimento da agricultura familiar e de consolidação de redes sociotécnicas ligadas à agroecologia”, explica Carvalho. Os produtos disponíveis, que vão de hortaliças como alface e brócolis a frutas como banana e batata-doce, revelam uma alta agrobiodiversidade — característica central para a sustentabilidade ecológica e econômica da produção rural.

Lucimar Abreu, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e orientadora do trabalho, destaca que o estudo confirma a importância e o potencial regional da agricultura de base ecológica frente aos impactos e riscos negativos da agricultura convencional, como o uso intensivo de agrotóxicos, a compactação do solo, a contaminação da água e a perda da biodiversidade. “A adoção de práticas agroecológicas, como a diversificação de culturas e a reciclagem da matéria orgânica, vem crescendo entre os agricultores em transição para sistemas mais sustentáveis”, afirma.

O cenário local reflete uma tendência mundial. Segundo dados do setor, entre 1999 e 2012 a área cultivada com orgânicos no mundo triplicou, alcançando 76,4 milhões de hectares em 2021. No Brasil, o mercado movimentou R$ 5,8 bilhões em 2020, com aumento de 30% nas vendas. Ainda assim, os entraves persistem. Apenas 1,2 milhão de hectares — menos de 0,5% da área agrícola nacional — são destinados à produção orgânica, e o país segue atrás de vizinhos como Argentina e Uruguai nesse quesito.

No estado de São Paulo, maior mercado consumidor do país, a produção de orgânicos ainda se concentra em poucos municípios. Mesmo assim, o Leste Paulista desponta como um polo em expansão, impulsionado por redes como a ANC e a Rede Agroecológica do Leste Paulista. Ambas atuam com sistemas participativos de certificação, articulando agricultores e consumidores em torno de princípios de confiança, transparência e respeito à natureza.

O marco institucional da agricultura orgânica no Brasil foi a promulgação da Lei nº 10.831, de 2003, que reconheceu diferentes sistemas de produção de base ecológica. Desde então, o setor vem crescendo, ainda que de forma desigual. Entre 2019 e 2024, o número de produtores orgânicos cadastrados subiu 45%, passando de 17.730 para 25.536. A maior concentração está no Sul, especialmente no Paraná, devido à atuação de certificadoras e ao apoio de órgãos como a Emater-PR. O Brasil conta hoje com três sistemas de certificação: por auditoria, por organização participativa (OPAC) e por Organização de Controle Social (OCS), esta última voltada especialmente aos agricultores familiares com venda direta ao consumidor.

Apesar dos avanços, os desafios são grandes. A edição mais recente do PLANAPO, lançada em 2024, destinou apenas 0,02% dos recursos para a agricultura familiar e orgânica — valor irrisório diante dos R$ 364 bilhões alocados no Plano Safra. Além disso, a escassez de dados públicos atualizados e a fraca articulação entre políticas setoriais dificultam a formulação de estratégias eficazes para o fortalecimento da produção orgânica e agroecológica no país.

O caso da ANC em Campinas é emblemático. Fundada em 1991, a associação criou um sistema de certificação participativa que envolve diretamente produtores e consumidores. Além de garantir a conformidade com os princípios orgânicos, esse modelo estimula o engajamento comunitário e a criação de laços de confiança. Os alimentos produzidos circulam em feiras locais, promovendo uma cadeia curta de comercialização e valorizando a agrobiodiversidade regional.

Segundo Victor de Carvalho e a pesquisadora Lucimar S. de Abreu, a agricultura orgânica cresce também impulsionada por um novo perfil de consumidor, mais atento a questões de saúde, segurança alimentar e preservação ambiental. “As redes locais de produção e comercialização mostram que é possível construir alternativas viáveis a agricultura convencional, com base na solidariedade, na participação coletiva e no respeito aos ciclos naturais” e com suporte do Estado, afirma.

Para pesquisadores e produtores, o futuro da agroecologia no Brasil depende do fortalecimento de políticas públicas específicas, da ampliação do acesso ao crédito e da valorização da agricultura familiar. “Em um cenário de crise ambiental e desigualdades no campo, a agricultura orgânica e agroecológica não apenas representam um modelo mais sustentável de produção de alimentos, como também apontam caminhos para um projeto de desenvolvimento rural mais inclusivo e equilibrado”, acredita Lucimar Abreu.

O trabalho é parte de um estudo vinculado ao Projeto RedForte, coordenado pela Embrapa Meio Ambiente, conduzido no âmbito da atividade “Análise das percepções de atores chaves do sistema alimentar de base ecológicas obre o processo de transição e dos programas e políticas públicas do PLANAPO (2023-2026) e da agricultura familiar“ de responsabilidade da pesquisadora Lucimar Abreu.

Fonte: Embrapa Meio Ambiente

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